von Cléssio Moura de Souza
As primaveras sempre trazem a promessa de uma nova vida. Uma vida que invade os nossos sentidos e nos enche de alegria. Foi em uma primavera que uma semente de esperança foi plantada no coração de uma família bem diferente! Dessa semente brotou um desejo! Um desejo cultivado pelo amor e admiração pelo Brasil que estava próximo e distante ao mesmo tempo. E foi com esse desejo que essa família singular, formada por três mães e quatro pais brasileiros e alemães germinaram uma semente única. Dessa semente desabrochou uma flor vigorosa e inquieta nos primeiros raios de sol do dia 24 de fevereiro de 1988.
Abriu os olhos no mesmo dia em que nasceu. Sentiu raios de luz que brotava daquelas pessoas que estavam ao seu redor. A flor recém-nascida foi levemente acariciado por cada pai e mãe que estava naquela sala e batizada com o nome que a todos lhe pareciam o melhor: Florzinha!
Os primeiros olhares e os primeiros gestos de Florzinha eram celebrados com muita festa e assim foi iniciada a sua primeira primavera. Diferente de muitas outras flores, Florzinha tinha pétalas e caule transparentes. Ela não se alimentava de água terra e sol, como as outras flores, e sim de luz, calor e perfume.
Cada pessoa ao seu redor era uma fonte de luz. Uma luz que se modificava a cada atividade realizada: Quando alguém cantava para Florzinha, essa pessoa refletia a cor verde; quando dançavam para ela as pessoas refletia a cor vermelha; quando liam a cor azul; e assim se passava com muitas outras cores.
O calor que alimentava a Florzinha emanava de cada abraço de carinho, compressão e tolerância que uniam pessoa de estados, regiões e países diferente. Florzinha percebeu desde cedo que o calor do abraço entre iguais e diferentes tinha a temperatura ideal para aquecer as suas raízes. Já a luz, lhe fazia crescer!
E o perfume? Bom, o perfume era exalado a cada gesto de solidariedade que era feito em seu nome. Ao ajudarem e ao serem ajudas, as pessoas exalavam perfumes intensos que às vezes tinha cheiro de rosas e outras vezes de lavandas. E assim, os perfumes da solidariedade lhe causava um sorriso e uma felicidade que não tinham fim.
Florzinha foi muito paparicada desde o seu nascimento e tinha um desejo quase incontrolável de ter gente ao seu redor; de ser acariciada com luz, calor e perfume. Sua necessidade era tão constante, que Florzinha, ainda muito jovem, ganhou uma sala para encontrar seus amigos e cuidadores. Florzinha unia todas aquelas pessoas que poderiam ser até diferentes, mas o amor e admiração pelo Brasil ultrapassava os limites das línguas, dos costumes e das culturas. Ali as pessoas cozinhavam juntos, cantavam juntos, assistiam filmes, viam fotos e era uma festa só! A Florzinha então brilhava feito arco-íris naquele espaço.
Depois de um tempo teve até apresentação de Teatro e Florzinha era só felicidades! E foi assim durante toda a infância de Florzinha. Muita luz, calor e perfume!
Florzinha cresceu festeiro e muito agitada e chegou na fase da adolescência. Florzinha descobriu que as festas era uma fonte inesgotável de luz e por isso não pensava em outra coisa.
Com o decorrer do tempo os pais de Florzinha começaram a ter dificuldades de manter o espaço e os encontros semanais aos domingos. Florzinha até tentava fingir que estava bem, mas como todo adolescente, tinha vontade de viver mais e se arriscar mais! Precisava de mais gente e de mais luz! Seus pais se esforçavam e continuou os encontros com os amigos de Florzinha uma vez por mês.
A luz, o color e o perfume que se fazia presente naqueles encontros enchiam Florzinha de felicidade e o seus pais começaram a pensar que ela era especial de mais para pertencer somente a eles. Florzinha precisava crescer, se expandir e se aventurar. Eles perceberam que os afazeres diários os impediam de proporcionar mais felicidade a ela, e assim decidiram que a família deveria crescer e que Florzinha precisa de mais pais e mães capazes de lhe proporcionarem mais luz, calor e perfume.
E foi assim que a família de Florzinha cresceu e se tornou ainda mais festeira. Às vezes aconteciam de Florzinha fazer grandes festas sem pensar muito nos custos! Como toda adolescente ela pensava primeiro na diversão. Naqueles raios coloridos de luz que emanavam daquelas pessoas... E depois percebia que tinha metido os pés pelas mãos, no seu caso, as raízes pelas folhas! Depois das festas, eram contas que não fechavam... saldo escrito em vermelho sobre o papel... Que confusão!
Rosinha então percebeu que estava gatando mais do que o que tinha! Mas como pensar sobre esses pequenos-grandes detalhe, quando só se tem em mente a alegria contagiante transformada em luz e calor que surgia daquelas pessoas? Umm... Muito difícil!
Mas aí uma de suas mães pensou assim: “Tenho que colocar rédeas nessa menina!” Florzinha então começou a ficar mais responsável e evitava “meter os pés pelas mãos”, ou melhor, “as raízes pelas folhas”!
Florzinha foi amadurecendo... ficando mais adulta. Mas jamais perdendo a pureza daquela flor criada para refletir luz. Ela entendeu que para ser grande tem que ser forte! E para ser forte tem que aprender com os erros ou pelo menos tentar!
E com o amadurecimento, Florzinha viu desabrochar uma nova fase! Ela que já tinha bastante luz e calor, viu que precisava de mais perfume! Foi aí que ela teve grande ideia: ela poderia juntar o útil com o agradável, ou melhor, a fome com a vontade de comer... ou seria a luz e o color o perfume? Bom, o que importa é a ideia! E a ideia era fazer a Alemanha ainda mais Brasileira através das festas tradicionais! Assim ela continuaria sendo festeira, e ao mesmo tempo, poderia ajudar aqueles que precisavam.
Florzinha teve o suporte arretada de uma de suas mães e até começou a falar português nordestinês. E foi assim que surgiu a famosa Festa Junina, que as vezes até acontecia em julho, mas nunca deixava de lado a alegria e a tradição do junho!
Tinha comida tópica? Tinha sim sinhô! Tinha Caipirinha? Tinha sim sinhô! Tinha mistura de sotaque? Tinha sim sinhô! Mistura de idiomas? E como tinha! Às vezes tinha até língua nova! Língua misturada... emaranhada... “bestellen” virava bestelar, dançar virava “tanzar”, mas quem mandou esses idiomas serem tão complicados?
Mas a Florzinha não tinha problema nenhum para entender esse povo todo! Pois além de falar português nordestinês, cariaoquês, paulistinês e todos os ês do português brasinianês, ela falava o alemão badischinês, schwabischnês, bayrischês e todos os outros ês do alemanês! Às vezes dava até um nó na cabeça com tantos ês!
Oficial
A festa junina da Florzinha ficou tão famosa que se tornou um encontro oficial da comunidade brasileira/alemã de Freiburg. Mas nem tudo era festa junina. Além do forró tinha tinha roda de côco, tinha maracatu e tinha frevo! Depois veio até roda de samba e carnaval!
Pois é! Florzinha estava ficando cada vez mais madura com passar dos anos. Ela começou a assumiu grandes responsabilidades em ajudar o próximo. Cada centavo que ela arrecadava em suas festas e eventos, Florzinha ajuda projetos sociais no Brasil. A cada gesto de solidariedade e de amor ao próximo, Florinha recebia perfume! O perfume da solidariedade! E por falar nisso, muitos perfumes foram exalados de vários projetos, como: Casa de Caridade Adolfo Bezerra de Menezes em Lauro de Freitas em Salvador na Bahia e Ruas e Praças em Recife. Ah, também teve uma creche que florzinha ajudou bastante, mostrando como cultivar alimentos e usá-los na merenda escolar.
E a cada ano Florzinha colocava mais gente na roda e gerava cada vez mais luz! Outras mães e pais foram surgindo. Mãe grande que adorava música... Mães baixinha que adorava dançar... Era como um arco-íris de cores, calor e perfume!
Mas quem disse que a Florzinha sossegava! De jeito nenhum! Apreendeu a cantar com uma de suas mães e o que foi que ela fez: fundou um coral! Sim... Um coral de música brasileira! E foi ao Som do Brasil que muitas constelações de musicais sugiram! Muitas notas verdes, amarelas azuis e brancas na harmonia de uma aquarela de estrelas brasileiras!
Florzinha cresceu jovem e desafiou e venceu todas as expectativas! Chegou aos 30 com a alegria e o espirito de quem nasceu ontem! Mas com uma grande diferença: sabe que nasceu para agregar, matar as saudades, dialogar e ser responsável!
Mas para além de tudo isso a Florzinha continua a buscar aquilo que é sua essência e sua fonte de vida: o brilho, o calor e o perfume!
Por isso, a Florzinha hoje te convida a brilhar, a transmitir color e exalar perfume em sua 30 primavera!
Brilhe na sua cor, no seu jeito e em sua maneira. Torne-se a luz que se reflete em Florzinha!
Transmita o seu color humano para todos que estão ao seu redor e aquecer Florzinha!
Seja solidário e façam o seu próximo visível e feliz! E assim você vai fazer de Florzinha a flor mais bela, mais cheia de luz, de calor e de perfume!
Feliz 30 anos de Primaveras para Florzinha e para cada um de nós! E que as futuras primaveras brasileiras continuem a trazer mais luz, calor e perfume!
Fim!